segunda-feira, 27 de novembro de 2017

As contas das Futebol SAD - SL Benfica, Sporting CP e FC Porto

Anexa-se Quadro-Resumo comparativo das contas consolidadas das três principais Sociedades Anónimas Desportivas (SAD) em Portugal, respeitantes às épocas 2016/2017 e 2015/2016 (em milhares de euros), juntamente com algumas observações pertinentes. 

(vide ficheiro PDF em partilhaLEITURA OBRIGATÓRIA

Os sítios da internet da SL Benfica Futebol SAD, Sporting CP Futebol SAD e FC Porto Futebol SAD disponibilizam os seus relatórios e contas (R&C), completos e com as respetivas certificações legais das contas consolidadas. Recomenda-se a sua consulta.


NOTA 1: Não obstante o esforço pessoal na produção de um trabalho objetivo, cumpre informar que sou adepto sportinguista. Se, porventura, algum leitor considerar que alguma parte da análise está ferida de subjetividade clubística, tem natural direito em pronunciar-se, apesar de considerar, à partida, não haver razão para tal.
NOTA 2: Apesar da relevante melhoria das contas da SL Benfica SAD em relação ao exercício anterior, reparo que a qualidade da informação divulgada é muito inferior e faltam muitos dados relevantes para a análise das demonstrações financeiras, nomeadamente ao nível do respetivo anexo.

Quando aos números em si, DESTACAM-SE cinco situações para mim relevantes:

1. Esta análise abrange as SAD e não os respetivos clubes, accionistas maioritários destas SAD. Considerando a abundância de saldos e operações existentes entre o grupo de cada SAD e as entidades fora desse grupo (incluindo o clube), convinha conhecer as contas consolidadas dos clubes, mas infelizmente estas não são publicitadas. Conforme já referido noutro artigo deste blog [link], os clubes são entidades coletivas de utilidade pública (?), logo não são obrigadas a prestar contas publicamente, nem a disponibilizá-las nos seus sites institucionais. E não são os únicos no “mundo do futebol” a (não) fazê-lo, conforme refiro no mencionado artigo. 
2. O facto mais evidente, em termos económicos, é talvez o mais publicitado e provavelmente do conhecimento geral. Todas as SAD possuem uma situação patrimonial líquida débil, sendo que duas (Sporting CP Futebol SAD e FC Porto Futebol SAD) estão enquadradas no art.º 35.º do Código das Sociedades Comerciais (em que mais de metade do capital social está perdido), sem que os respetivos R&C evidenciem medidas objetivas e concretas quanto à resolução da situação. Ressalve-se que a gravidade da situação varia de SAD para SAD. Tal constatação e a ligeireza com que se aborda o tema no espaço mediático relega-nos para a infeliz constatação de que estas entidades do futebol pertencem a uma categoria semelhante aos bancos, ainda que por motivos diferentes (de vertente mais psicológica que económica), sendo consideradas pelo público em geral como “demasiado importantes para cair”, até ao dia… em que cair a primeira. Pela análise fria das contas, parece que a FC Porto Futebol SAD é a principal candidata a vencer este campeonato da falência.
3. Outro facto evidente, mas cujo grau pode ser encarado de várias perspetivas diferentes e estar sujeito às tais parcialidades clubísticas na sua análise, prende-se com a situação financeira. Salvo melhor opinião, a Sporting CP Futebol SAD apresenta a situação mais aliviada no médio longo prazo, fruto da recente renegociação efetuada com os bancos (por todo o Grupo Sporting), apesar de se tratar de uma estabilidade a prazo determinado (9 anos). Neste aspeto, a SL Benfica Futebol SAD e a FC Porto Futebol SAD carecem de idêntica reestruturação da dívida… se se quiserem aguentar nas próximas épocas. Esta última SAD terá talvez a maior dificuldade em concretizar esse passo, atendendo à respetiva situação económica e ao enorme défice operacional que perspetiva (novamente) para a época em curso e, eventualmente, para as subsequentes. Trata-se de uma questão de fôlego financeiro, para colocar a casa em ordem e (sugiro eu) adaptá-la à dimensão do futebol nacional, sem negligenciar a participação nas competições europeias. A SL Benfica Futebol SAD é a que aparece mais aliviada no curto prazo, em termos de liquidez, provavelmente pela modesta abordagem feita ao mercado, em termos de compras, na preparação da época 2017/2018.
4. As pesadas estruturas de gastos das SAD, grosso modo, fazem com que o sinal positivo ou negativo do resultado de cada exercício dependa, principalmente, das mais valias das vendas de direitos desportivos de atletas (ativos intangíveis) e da participação na Liga dos Campeões (pelas receitas diretas e indiretas que gera). A principal componente dos encargos de cada SAD respeita aos gastos com o pessoal (diretos e indiretos, incluindo as amortizações dos direitos desportivos dos atletas), sendo que neste aspeto a SL Benfica Futebol SAD surge em primeiro lugar com 118,4 M€ de gastos, FC Porto Futebol SAD  surge em segundo lugar com 110 M€ de gastos e, finalmente, a Sporting CP Futebol SAD com 82,3 M€ de gastos. Poderá colocar-se em causa a razoabilidade dos maiores valores, dentro do contexto do futebol português (ou não)?
5. Não querendo explorar muitos dos aspetos concretos focados nos comentários ao quadro comparativo partilhado no ficheiro acima, finalizo este resumo com um destaque àquele que considero ser, porventura, o dado mais curioso da análise, atendendo à grande incerteza no futuro desportivo (e consequentemente económico-financeiro) destas SAD – o plantel de atletas profissionais. No final da época de 2016/2017, a SL Benfica Futebol SAD possuía um plantel profissional com 89 jogadores valorizados, no valor líquido de 124,3 M€, sendo que neste R&C, por razões que desconheço, foi excluída a referência ao número de atletas sem valorização (oriundos da formação). A FC Porto Futebol SAD possuía um plantel profissional com 64 jogadores valorizados, no valor líquido de 96,7 M€, e 17 jogadores não valorizados (oriundos da formação, provavelmente). Na mesma data, a Sporting CP Futebol SAD possuía um plantel profissional com 37 jogadores valorizados, no valor líquido de 59,5 M€, e 66 jogadores não valorizados (oriundos da formação, provavelmente). Neste capítulo, pode ficar-se com uma ideia clara sobre como cada SAD encara a questão da "formação".

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